Apresentação

Este livro é um belo desdobramento do mestrado de Fernanda Kalianny Martins Sousa, defendido na Universidade de São Paulo (USP), em 2016, que parte da análise de documentos, letras das canções, entrevistas e conversas com Leci Brandão, a fim de entender sua trajetória. O texto revela como esta mulher negra, advinda de uma família de camada trabalhadora, conseguiu acessar espaços majoritariamente masculinos ou predominantemente brancos — como ser compositora de sambas na Mangueira ou ter se tornado deputada estadual em São Paulo. O fio da narrativa revela como Leci Brandão pôde superar os limites mais comuns impostos às mulheres negras oriundas do subúrbio carioca. Demonstrando a importância da educação em sua formação, o texto traz também as conexões que Leci foi tecendo em sua vida profissional, nas relações de parentesco, de vizinhança e de amizade. Essa trajetória é apresentada com uma escrita fluente e delicada, escapando do jargão acadêmico das ciências sociais, mas, ainda assim, mostrando uma interpretação complexa dos marcadores sociais da diferença (com destaque para gênero, raça e classe). A análise teórica concentra-se no ensaio final Antropologias e Espelhamentos, no qual Martins Sousa traz suas reflexões densas sobre ser uma antropóloga negra. Em diálogo com as autoras com as quais debate na sua dissertação, explicita, assim, como ter uma trajetória em alguns pontos semelhante à de Leci Brandão, e por outro lado muitas diferenças, lhe permitiu construir este trabalho.

Heloísa Buarque de Almeida